FILIOCRACIA: O REGIME DOS AMIGOS
José Leidivaldo Oliveira*
Um dia depois do três de outubro, liguei para minha avó para saber em quem ela havia votado. Com a firmeza e a certeza de uma sexagenária ela me responde:
- Votei na Vilma! Votei na mulher de Lula! E não tem quem tire o voto dela!
Foi exatamente essa a imagem que me ficou dessas eleições. Enfim... Dever cumprido (parcialmente, vem aí o segundo turno). É justamente a palavra dever que melhor expressa o que significou o processo eleitoral que ora se encerra. O descrédito e a desesperança na maioria dos políticos transformaram a eleição em um mero dever burocrático, uma obrigação. Isso pode ser comprovado nos quase 20% dos brasileiros que se abstiveram mais os votos brancos e nulos que campearam as estatísticas.
Mesmo palavras tão batidas no vocabulário político como democracia, cidadania e outras tantas, foram relegadas a coadjuvantes. A retórica política desse ano mais confundiu o povo e se distanciou da realidade em dimensões estratosféricas. O que houve, em certos momentos, foram falácias enganosas e pantanosas, maquiadas por elementos de marketing como um produto a ser comercializado e consumido. E a grande imprensa contribui deveras para isso.
Foi tudo completamente paradoxal. Exemplos: foi deprimente ver o sindicalista/presidente pedir votos para usineiro, empresário, latifundiário. Então dizer o que de uma ambientalista garota propaganda da sustentabilidade toda maquiadinha com produtos de uma das marcas de cosméticos que mais poluem o meio ambiente? Deu dó ver o tucano criatura negando o tucano criador. Resultado: venceu o deboche. Contra o cinismo político, a chacota do povo. Que o diga o um milhão e trezentos mil votos do “abestado” Tiririca.
Aqui em Sergipe a eleição também não fugiu à regra, não. Esqueçam nomes e números! E nada de demonizar ou divinizar as personagens que encenaram a campanha política local. É imperativo, entretanto, discorrer aqui o vazio existente em cada projeto das grandes candidaturas, que bem medido e bem pesado são irmãos siameses. Aliás, no que diz respeito a projetos foi o que menos se debateu. No máximo, travou-se uma batalha pessoal do mais por menos: quem fez mais pontes; mais mudou nomes de rodovias; mais perseguiu e criminalizou os movimentos sociais; mais perseguiu o servidor público estadual. Qual menos respeitou o piso salarial do magistério e dos demais servidores; menos fechou escolas; menos investiu em saúde, educação e saneamento; blá, blá, blá...
A disputa na verdade era de direção. Qual dos grupos majoritários iria dirigir o estado de Sergipe, mas sem transformar as estruturas sociais. Ou seja: governar para que os ricos fiquem bem mais ricos e os pobres um pouco menos pobres. Coincidência ou não a mesmíssima fórmula empregada durante a ditadura civil/militar brasileira. Por isso, não se viu diferença no “modo petista de governar” dos governos “da mesmice e do atraso”. Na verdade, ambos tornaram-se uma mistura homogênea que no máximo pode resultar em um governo “tucano-cristão do bico vermelho”
Dever ter sido dolorido para a (honesta) militância petista ver seu governo ser rotulado de “a nova direita”. Como dever ter provocado lágrimas nos democratas ver a estrela no peito e bandeira vermelha sendo carregada por antigos defensores e aliados. Devem ter ficado vermelhos de raiva (sem trocadilho). E as façanhas do jogo da conveniência foram mais além, muito mais... Foi empresário que virou socialista; ateu professando a fé cristã; grandes poluidores se transformaram em ambientalista; latifundiário defensor da reforma agrária; conservador empenhado nos direitos individuais e sociais. Enfim, pouca ideologia e muita conveniência. Sinceramente a campanha eleitoral por aqui foi um misto de comédia bufa com terror trash.
Para não cair no erro da generalização, excetuo as candidaturas socialistas e comunistas (de verdade) que não se desvencilharam dos ideais contidos no arcabouço partidário. Em que pese não conseguirem ter o mesmo tempo no horário eleitoral gratuito, nem na imprensa sergipana e as dificuldades estruturais para levarem sua campanha ao eleitorado sergipano, essas candidaturas permaneceram fiéis ao pensamento ideológico e programáticos de seus respectivos partidos.
Por fim, terminaria essas insipientes palavras com a ousadia de parodiar um dos nossos mais nobres literatos: Carlos Drummond de Andrade e seu muito popular poema Quadrilha. Longe da sagacidade e do brilhantismo do poeta, nossa intenção é fazer uma simplória homenagem às digníssimas Excelências:
João confiava em Eduardo
Que escolheu Marcelo
Que se aliou a Jackson
Que se juntou a Antonio Carlos
Que convidou Albano
Que se uniu a Edivaldo
Que estava com todos
Eduardo brigou com João
João ligou pra Albano
Que preferiu o Marcelo
Que aceitou o Eduardo
Que se juntou ao Antonio Carlos
Que acomodou o Jackson
Que sorriu pra Edivaldo
E todos serviram ao Barack Obama que não tinha entrado na história.
*Estudante de Comunicação Social/Jornalismo da Universidade Federal de Sergipe/UFS